Antes da publicação dos
primeiros estudos sobre o benefício da terapia trombolítica no infarto agudo do
miocárdio (IAM), a partir da década de 90, e posteriormente, pela comprovação e
uso difundido da angioplastia primária, o tratamento do paciente infartado era
muito limitado, baseado no repouso, monitorização eletrocardiográfica contínua
em UTI, no uso da chamada solução polarizante, analgesia com opioides,
nitratos, beta-bloqueadores e infusão rotineira de lidocaína (que se mostrou
prejudicial posteriormente), tratamento das arritmias. Neste cenário era muito comum a evolução com
complicações, como insuficiência ventricular esquerda (IVE), choque
cardiogênico e complicações mecânicas, como comunicação interventricular (CIV),
insuficiência mitral aguda, aneurisma/pseudoaneurisma do ventrículo
esquerdo e ruptura da parede livre. Maior permanência em UTI, pela necessidade de drogas inotrópicas e ventilação mecânica invasiva, era uma das consequências. Todas estas condições estavam associadas a maior mortalidade (hospitalar e no seguimento) dos pacientes acometidos por infarto do miocárdio .
Mas é evidente que muitos pacientes apresentavam evolução clínica satisfatória, sem complicações, mesmo sem terapia de reperfusão, a depender principalmente da extensão área necrosada do coração e do comprometimento contrátil do ventrículo esquerdo.
Mas é evidente que muitos pacientes apresentavam evolução clínica satisfatória, sem complicações, mesmo sem terapia de reperfusão, a depender principalmente da extensão área necrosada do coração e do comprometimento contrátil do ventrículo esquerdo.
Hoje
as diretrizes das Sociedades de Cardiologia indicam o emprego precoce da
terapia de reperfusão. A reperfusão pode ser efetivada por meio da
administração de trombolítico endovenoso ou pela realização de angioplastia, na sala de hemodinâmica. Esta
conduta deve ser realizada nas primeiras 12 h do início dos sintomas isquêmicos (angioplastia ou trombolítico),
ou entre 12 e 24 h do início dos sintomas (angioplastia)
na presença de pelo menos um dos seguintes: persistência dos sintomas
isquêmicos, instabilidade hemodinâmica ou elétrica. Se houver choque cardiogênico, o cateterismo pode ser realizado por até
36h do início do infarto, visando à revascularização, sendo observado benefício no estudo SHOCK, associado a outras medidas (suporte hemodinâmico através de balão intra-aórtico e farmacológico).
Porém,
para atender o grande número de pacientes com IAM, de forma rápida, há
necessidade de uma estrutura adequada dos serviços de saúde, com
disponibilidade de laboratórios de hemodinâmicas funcionando 24 h por dia. O atendimento da população não conveniada é realizado pelo nosso precário sistema de saúde, que apresenta deficiências que tornam esta tarefa difícil em virtude de vários
fatores, a começar pelo preparo frequentemente inadequado dos profissionais que
fazem o atendimento inicial, que muitas fezes não encaminham o paciente para
angioplastia, ou não administram o trombolítico na impossibilidade de
encaminhar para o laboratório de hemodinâmica. A logística do
funcionamento dos serviços de hemodinâmica (aqui na nossa cidade a cargo dos hospitais
privados, principalmente) apresenta limitações importantes, sendo que muitas
vezes se recusam a receber os pacientes pela ausêcia de vagas em UTI. Mas o
maior e mais grave problema são as condições deficientes de funcionamento do principal
hospital de urgências do estado, como pode ser constatado nesta reportagem
recente (Tribuna do Norte, 12 de janeiro de 2012); muitos pacientes com IAM são tratados fora do ambiente de UTI, em leitos improvisados.
Possivelmente como conseqüência
da situação relatada, temos observados com maior freqüência pacientes com
complicações decorrentes do IAM (CIV pós-IAM, choque cardiogênico, IVE,
aneurisma do ventrículo esquerdo e com instabilidade elétrica-bloqueio AV); a
maioria não reperfundidos, por motivos diversos: alguns são atendidos em vários
serviços até finalmente ser internados, com intervalo de tempo muito longo (Δt), por
impossibilidade de realizar angioplastia; por opção da equipe (negligência), por demora demora do paciente para procurar atendimento após os sintomas, entre
outras causas. É como se estivéssemos voltando ao passado, época em que o
tratamento do IAM era muito limitado, as complicações, frequentes e a mortalidade comprovadamente maior.
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
1. Antman EM, Anbe DT, Armstrong PW, et al.
ACC/AHA guidelines for the management of patients with ST-elevation myocardial
infarction (committee to revise the 1999 guidelines). J Am Coll Cardiol 2004; 44:671-719.
2. Webb JG, Lowe AM, Sanborn TA, et al. Percutaneous coronary intervention for cardiogenic shock in the SHOCK trial. J Am Coll Cardiol 2003; 42(8):1380-6.
Muito bom esse quadro de evolução... achei muito boa a explicação.
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