Foi publicado no último número da RELAMPA-Revista Latino-Americana de Marcapasso e Arritmia, um estudo nosso (v. referência abaixo).
A RELAMPA é a revista oficial do DECA (Departamento de Estimulação Cardíaca Artificial, da SOBRAC (Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas), entre outras Socieades de especialistas da área em outras países da América Latina. Atualmente a Relampa é editada por Dr. Oswaldo Tadeu Greco e co-editada por Dr. Adalberto Menezes Lorga Filho. Este último número (maio/junho 2012) é dedicado a Terapia de Ressincronização Cardíaca.
RESUMO DO NOSSO ESTUDO:
O bloqueio de ramo esquerdo
(BRE) está associado à disfunção sistólica e diastólica. Entretanto, o BRE pode
ser registrado na ausência de disfunção ventricular.
Este estudo teve como
objetivo avaliar a correlação entre alterações eletrocardiográficas em
pacientes com BRE e a função sistólica ventricular. Realizamos uma análise
comparativa entre os parâmetros eletrocardiográficos e a presença ou não de
disfunção sistólica.
Estudo retrospectivo, dados
arquivados de pacientes com BRE, que realizaram ECG e ecocardiograma, com
avaliação da função ventricular e medida da fração de ejeção (FE). Disfunção
sistólica foi considerada quando a FE <45 o:p="o:p">45>
Análise estatística por teste T não pareado, Mann-Whitney e qui-quadrado (para variáveis categóricas). As variáveis foram avaliadas
pela correlação de Pearson ou Spearman e por análise univariada e
multivariada. P significativo se <
0,05.
Resultados: 105 pacientes
foram estudados, com idade de 65, 4 ± 13,8 anos, QRS com duraçnao de 150,1 ±
24,2; 72 (69%) com disfunção ventricular e 33 (31%) com função ventricular
preservada. Os seguintes parâmetros apresentaram correlação com a FE na análise
univariada: duração do QRS (≥ 160 ms), desvio do eixo para esquerda ou direita
(> -30° ou > +90° PF), sobrecarga atrial esquerda: SAE (onda P ≥ 0,12 s
e/ou fase negativa em V1 ≥ 1 mm2), amplitude da onda S em V3 e V4 e entalhe no
QRS nas derivações inferiores. Na análise multivariada, a duração do QRS,
presença de SAE e S de V4 >=12 mm se correlacionam com a FE. A presença de
duas ou três das alterações apresentou VPP de 98,0% e VPN de 60,4% para
predizer FE reduzida.
Conclusão: A duração do QRS
(≥ 160 ms), SAE e S em V4 ≥ 12 mm apresentam correlação com disfunção sistólica
em pacientes com BRE. A presença ≥ 2 das alterações é um marcador de disfunção
ventricular.
Como pode-se observar, a população estudada
apresenta uma prevalência elevada de disfunção ventricular: 69% dos pacientes
da nossa amostra de pacientes com BRE. Esta alta prevalência é relatada em
outros estudos, com resultados similares.
Combinando estes parâmetros (QRS ≥ 160 ms e onda S de V4 ≥ 12 mm), mais presença de sobrecarga atrial esquerda (SAE), em um escore de pontos, com um valor de 1 para cada um dos parâmetros, obtivemos uma boa correlação com a fração de ejeção (Rho=0,66, p< 0,0001) e moderada correlação com a classe funcional de IC (R=0,43, p< 0,001). Um escore ≥ 2, ou seja, isto é, quando o ECG exibe duas ou as três alterações citadas, apresenta sensibilidade de 70,8 e especificidade de 97,0 e está associado a disfunção ventricular (FE <45 i="i"> 45>
com VPP de 98,0% e VPN de 60,4% (razão de probabilidade positiva: 23,4 e razão de probabilidade e negativa: 0,30). Um escore de 2 ou 3 foi um marcador de disfunção sistólica grave (FE ≤ 35%) na população estudada: VPP-94% e VPN-66%.
Estes
critérios podem ser úteis com parâmetros simples para predizer disfunção
ventricular em pacientes com BRE, usando como base o ECG, que é um método de
baixo custo e amplamente disponível.
Portanto,
com base nesse estudo, observamos a associação dos critérios seguintes e
disfunção ventricular sistólica em pacientes com BRE:
• Duração do QRS ≥ 0,16 s;
• Presença de anormalidade atrial
esquerda: aumento da duração da onda P (≥ 0,12 s) ou pelo critério de Morris;
• Presença de ondas S de grandes
amplitudes nas derivações precordiais V1 a V4 (S de V4 >= 12 mm).
A
presença de 2 ou mais destes critérios foi um marcador de disfunção
ventricular, geralmente disfunção sistólica importante.
OBS. Este estudo apresenta limitações, desde que é baseado na análise retrospectiva de uma população atendida em um hospital terciário. Os nossos resultados e conclusões podem não ser reproduzidas em populações diferentes. O escore obtido com base na análise dos nossos dados necessita ser validado de forma prospectiva.
Referência:
Oliveira
Neto NR, Torres GG, Fonseca GPC, Souza RL, Pinheiro MA, Torres KP. Correlação
entre eletrocardiograma e função sistólica na presença de bloqueio de ramo
esquerdo. Relampa 2012;25(2):91-98.
Interessante os critérios eletrocardiográficos encontrados. Há cerca de 15 dias, ocorreu uma sessão aqui no Departamento de Imagem da SBC/Ba, cujo tema era o MODO M do ecocardiograma e sua utilidade nos dias de hoje. Dentr tudo que foi falado, o que mais foquei foi no BRE e as variadas maneiras que podemos observar o acoplamento eletromecânico das paredes do VE. Alguns movimentos anômalos determinado pela ativação assincrônica do SIV e parade posterior (ínfero-lateral), ocorrem durante o período de contração isovolumétrica e até mesmo durante a mesodiástole, portanto não contribuindo para a fração de ejeção. Ou seja, a depender de como ocorre a movimentação das paredes, estaspodem se comportar tal qual uma parede acinética ou até mesmo dicinética no qu diz respeito a sua contribuição pafra fração de ejeção do VE!!!
ResponderExcluirPalavras de Dr. Feingebaum (este está para a Ecocardiografia, tal qual Dr. Branwald está para a Cardiologia!):
ResponderExcluir..."Thus, LBBB with paradoxical septal motion during systole is a negative inotropic event. It is the equivalent to having an akinetic or dyskinetic septum with a myocardial infarction. One can easily appreciate how an LBBB with paradoxical septal motion is a significant
negative inotropic phenomenon for LBBB."...
Aqui o link dos slides da aula e exemplos de BRE e eco:
http://ecobahia-mitoseverdades.blogspot.com.br/2012/10/sessao-do-dic-ba-by-fabio-soares.html
Matéria excelente! Ótimas referências, e o resumo ficou maravilhoso.
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