A
arritmia ventricular (idiopática) da via de saída do ventrículo direito e a
relacionada displasia/cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito (DAVD)
podem ter aspectos morfológicos semelhantes. Em ambos os casos, a
extrassistolia ventricular (ESV) ou a taquicardia ventricular (TV) podem
apresentar padrão de BRE com eixo para baixo, isto é, QRS negativo em V1 e
positivo em II, III e aVF.
Arritmia
ventricular com esta morfologia na maioria dos casos corresponde à forma
idiopática de via de saída do ventrículo direito, enquanto a DAVD é incomum. De
outro modo, na maiorias dos casos, esta forma de arritmia ventricular é
idiopática, mas pode ser causada por DAVD. E a arritmia de via de saída de VD
tem um bom prognóstico na maioria dos casos, ao contrário da DAVD, que é
associada à morte súbita. Um escore desenvolvido foi recentemente publicado,
derivado da análise de uma coorte e validado prospectivamente, com a finalidade
de distinguir arritmia ventricular idiopática de via de saída do ventrículo
direito (VD) da arritmia ventricular associada à displasia/cardiomiopatia
arritmogênica do ventrículo direito (DAVD). O escore deve ser empregado quando
a extrassistolia ventricular (ESV) ou a taquicardia ventricular (TV) apresenta
morfologia de BRE e eixo inferior. Por outro lado, este escore não é um
substituto para os critérios revisados da força tarefa ("revised task
force criteria"), que são a base para o diagnóstico da DAVD. Este
escore apresenta máximo de 8 pontos, sendo que um escore ≥ 5 é compatível com
arritmia ventricular por displasia arritmogênica do ventrículo direito. O
escore é baseado na análise da presença ou não de inversão de T em V1 a V3 em
ritmo sinusal (3 pontos, se presente) e na análise dos seguintes parâmetros do
ECG da arritmia ventricular (batimentos ventriculares ectópicos ou taquicardia
ventricular): intervalo QRS com duração de 120 ms ou mais em D1 (2 pontos);
entalhe no QRS, definido como a presença de entalhe no QRS (no ramo ascendente
ou descendente) em duas ou mais derivações, que não passa a linha de base (2
pontos) e zona de transição do QRS (1º QRS com R >= S) nas precordiais em V5
ou além (1 ponto).No estudo citado (v.referência) foi observado que um escore
de 5 ou mais distinguiu de forma correta a arritmia ventricular idiopática da
causada por DAVD em 94% das vezes, com sensibilidade de 84%, especificidade de
100%, VPP de 100% e VPN de 91%. Um total de 86 ECGs com arritmia ventricular
(de 85 pacientes) foram avaliados.
Considero
que este escore preenche um lacuna na literatura e, pela sua simplicidade, deve
ser empregado com o objetivo proposto, principalmente pelos especialistas em
Arritmias ou Eletrofisisiologia.
Referência:
Hoffmayer KS, Bhave PD, Marcus GM, et al. An electrocardiographic scoring system for distinguishing right ventricular outflow tract arrhythmias in patients with arrhythmogenic right ventricular cardiomyopathy from idiopathic ventricular tachycardia. Heart Rhythm 2013;0:-1–7.
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