O escore de Selvester foi desenvolvido na década de 80 por pesquisadores americanos com a finalidade de estimar o tamanho da área infartada (necrose). Constitui um sistema de critérios (50), com total de 31 pontos. Cada ponto vale 3% de área de necrose (scar). Recentermente, Strauss, do mesmo grupo de Selvester (Johns Hopkins) tem publicado vários estudos, inclusive estendendo a aplicação do escore para pacientes com miocardiopatia não isquêmica. Desenvolveu versões do escore para pacientes com hipertrofia ventricular e distúrbio de condução intraventricular, o que constituia uma limitação deste escore.
À primeira vista parece ser de aplicação muito complexa pelo grande número de critérios, mas gastamos na verdade pouco tempo para aplicar o escore. Tenho usado algumas vezes, inclusive foi posto no nosso livro de Eletrocardiografia, com todas as versões (normal, com HVE e dist. de condução) e mostramos um caso onde aplicamos o escore(incluindo a ressonância cardíaca com realce tardio).
A ressonância cardíaca com realce tardio é um exame que trouxe grande contribuição para a cardiologia nos últimos anos. É o padrão ouro para a quantificação da área infartada, para avaliar inflamação e fibrose na cardiomiopatias. Diferencia doença isquêmica de não isquêmica. É o melhor exame de imagem para o diagnóstico da displasia arritmogência do ventrículo direito.
Sabe-se que cerca de 30 a 40% dos pacientes com miocardiopatia não isquêmica tem fibrose na ressonância, sendo a existência de fibrose um marcador de mau prognóstico.
Voltando ao Escore de Selvester-Strauss: os estudos mostram que um escore elevado é um marcador prognóstico no pós-infarto. ´
Não deixa de ser incrível como este escore, baseado exclusivamente num exame simples como o ECG, seja capaz de predizer a área de fibrose (cicatriz) miocárdica conforme pode ser visto na ressonância com realce tardio com gadolínio (este sim um método caro e ainda pouco disponível).
Alguns estudos apontam que um escore elevado é um preditor de eventos arrítmicos em pacientes com insuficiência cardíaca. Um outro estudo recentemente publicado, observou que um escore=0 foi associado a uma menor probabilidade de TV/FV nos pacientes do SCD-HeFT (um importante "trial" que mostrou redução da mortalidade do Cardiodesfibrilador (CDI) em pacientes com insuficiência cardíaca em relação a amiodarona ou placebo).
Métodos para selecionar melhor os pacientes para implante de CDI tem sido buscados porque a maior parte dos pacientes que realizam implantes de CDI não recebem terapia apropriada (cerca de 60 a 70%). Muitas vezes fazemos a troca do gerador por desgaste de bateria e o dispositivo não aplicou um shock sequer em 4-5 anos, sendo implantado seguindo as indicações formais (diretrizes). Assim métodos como a "microalternância da onda T' e o "escore de ECG" poderia selecionar melhor os pacientes, sobretudo na prevenção primária, com a finalidade de melhorar a custo-efetividade do CDI. Lembro que prevenção primária refere-se a indicação de CDI no paciente de alto risco (exemplo: pós-IAM com disfunção grave, com miocardiopatia hipertrófica), mas que não apresentou eventos tipo TV/FV e/ou parada cardíaca ressucitada.
PARA LER MAIS:
1.Strauss DG, Selvester RH. The QRS complex—a biomarker that “images” the heart: QRS scores to quantify myocardial scar in the presence of normal and abnormal ventricular conduction. J Electrocardiol 42 2009 85–96.
2.Assomull RG, Prasad SK, Lyne J, et al. Cardiovascular magnetic resonance, fibrosis, and prognosis in dilated cardiomyopathy.J Am Coll Cardiol. 2006;48:1977–85.
Artigo completo: http://content.onlinejacc.org/cgi/content/full/48/10/1977
3.Strauss, D G. et al. Circ Arrhythmia Electrophysiol 2008;1:327-33. Artigo completo:
http://circep.ahajournals.org/content/1/5/327.full
4.Strauss DG, Poole JE, Wagner GS, Selvester RH, et al. An ECG Index of Myocardial Scar Enhances Prediction of Defibrillator Shocks: An Analysis of the Sudden Cardiac Death in Heart Failure Trial (SCD-HeFT).Heart Rhythm. 2010 Sep 24
5. Oliveira Neto, NR. Escores Eletrocardiográficos. In: Eletrocardiografia Clínica: uma abordagem baseada em evidências. Editora Revinter, 2010, pp 345-358.
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