Uma dilema relativamente
frequente nas Unidades de Emergências é o diagnóstico diferencial entre IAM com
supra de ST e o supradesnível do segmento ST relacionado à repolarização
precoce e variantes. Um destes padrões considerado variante do normal é o
chamado padrão masculino, observado geralmente em homens jovens: elevação
ascendente (côncava) do segmento ST nas derivações precordiais V1 a V4.
A repolarização precoce foi
abordada na postagem anterior.
O supradesnível do ST que
ocorre no IAM apresenta características típicas, tais como alterações
recíprocas, isto é, depressão do ST em derivações cujos pólos positivos estão
posicionados em direção oposta, surgimento de Q patológico e modificações das
alterações nas primeiras horas e dias (alterações dinâmicas).
Ao contrário do IAM, nas
condições citadas, o padrão eletrocardiográfico é em geral mantido, ou seja,
não há a alteração dinâmica característica da fase aguda, nem o surgimento de
ondas Q.
Apesar dos aspectos citados,
as alterações no infarto agudo podem ser sutis na fase inicial, o que torna
difícil o diagnóstico diferencial.
O primeiro aspecto a
observar é o quadro clínico: o perfil de risco do paciente e os sintomas
apresentados. A caracterização da dor ou desconforto torácico e sintomas
associados devem ser feitas com atenção e paciência.
No ECG, os seguintes
aspectos são compatíveis com IAM (adaptado de Smith SW et al. Ann Emerg Med
2012; 60: 45-56):
- Elevação do segmento ST > 5 mm em qualquer derivação.
- Segmento ST convexo em qualquer derivação precordial de V2 a V5.
- Presença de depressão de ST tipo alteração recíproca ("imagem em espelho").
- Presença de onda Q patológica em V2 a V4 (em qualquer uma).
Ao contrário, são condições
que sugerem repolarização precoce/variante:
- Homem jovem, atleta.
- Presença de onda J ou "espastamento" na onda R no final do QRS.
- Ausência de alteração recíproca.
A alteração recíproca
(imagem em espelho) é geralmente observada na fase aguda do infarto. No infarto
inferior, ocorre depressão do ST em D1 e aVL (as vezes só em aVL) e nas
derivações V1-V3 (por envolvimento da parede posterior), enquanto no IAM
anterosseptal a alteração recíproca é observada nas derivações inferiores.
IAM inferior e BAV total. Observar o supra de ST em
DII, DIII e aVF. Dissociação com frequência atrial maior do que a frequência
ventricular, que apresenta escape com QRS estreito. Houve reversão do bloqueio
no seguimento e boa evolução clínica. Observe a depressão do ST em DI e aVL: alteração recíproca ou imagem em espelho.
A alteração observada em V1 (discreto
supra de ST) sugere infarto do VD associado, o que frequentemente ocorre no IAM
inferior com BAVT. Apesar do ritmo não ser sinusal, esta alteração em V1 deve ser valorizada neste caso porque o escape é alto, provavelmente, juncional (QRS estreito).
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