A
maioria dos pacientes atendidos com suspeita de IAM e BRE (novo ou
presumidamente novo) não apresenta síndrome
coronariana aguda, conforme discutimos previamente no final desta postagem.
Frequentemente o que se observa é o paciente com cardiopatia crônica apresentar dispneia (descompensação de IC, EAP) e procurar atendimento nas UPAs ou Emergências. O BRE seria de outras etiologias, geralmente condições crônicas: cardiomiopatias, cardiopatia hipertensiva, esclerose e calcificação do sistema de condução, entre outras. Em serviços de Cardiologia, o BRE está entre as principais causas de ativação inadequada de serviço de hemodinâmica.
Frequentemente o que se observa é o paciente com cardiopatia crônica apresentar dispneia (descompensação de IC, EAP) e procurar atendimento nas UPAs ou Emergências. O BRE seria de outras etiologias, geralmente condições crônicas: cardiomiopatias, cardiopatia hipertensiva, esclerose e calcificação do sistema de condução, entre outras. Em serviços de Cardiologia, o BRE está entre as principais causas de ativação inadequada de serviço de hemodinâmica.
No
entanto, o IAM associado ao BRE precisa ser reconhecido, uma vez que estes
pacientes apresentam uma mortalidade elevada, maior do que aquela dos pacientes
com IAM com supra de ST e sem BRE. Tais pacientes precisam receber o tratamento
adequado, incluindo a terapia de reperfusão, se indicado.
Uma revisão sistemática recente concluiu que o BRE novo em pacientes com infarto agudo é associado a maior mortalidade em 30 dias (OR: 2.10, 95% CI 1.27 to 3.48) e 1 ano (OR: 2.81, 95% CI 1.64 to 4.80) e maior risco de insuficiência cardíaca.
Uma revisão sistemática recente concluiu que o BRE novo em pacientes com infarto agudo é associado a maior mortalidade em 30 dias (OR: 2.10, 95% CI 1.27 to 3.48) e 1 ano (OR: 2.81, 95% CI 1.64 to 4.80) e maior risco de insuficiência cardíaca.
Para
o diagnóstico de IAM associado a BRE são usados os conhecidos critérios de
Sgarbossa, que têm como limitação um sensibilidade baixa, em torno de somente 20%.
Porém, a presença de supra concordante é um bom preditor de infarto com artéria
ocluída.
O
terceiro critério de Sgarbossa - supradesnível do ST ≥ 5
mm em discordância com o QRS – é o menos acurato dos três critérios, apresenta
menos peso e não é suficiente isoladamente para diagnosticar IAM associado a
BRE. Na verdade, estamos "cansados" de vê BRE com supra de ST ≥ 5 mm em V2-V3 em
pacientes com cardiopatia crônica, na ausência de coronariopatia ou infarto
agudo. Este é um critério que é, também, pouco específico.
O supra de ST no BRE
guarda proporcionalidade com a amplitude das ondas S nestas derivações. Grandes
complexos QRS tendem a apresentar grandes supras de ST nas derivações V1 a V3. Ondas
S muitos amplas em V1 a V3 são comuns em caso de BRE associado a valvopatia
aórtica, cardiomiopatia hipertensiva e dilatada (idiopática).
O
critério de Smith considera a relação de proporcionalidade entre o ST e o QRS: medida
da relação entre o supra do ST no ponto J pela amplitude da onda S ou R, que
deve ser ≤ - 0,25, ou seja, um supradesnivel ou infradesnível do segmento ST
discordante maior do que 25% da amplitude do complexo QRS é critério para
diagnosticar IAM na presença de BRE.
A
substituição do critério de Sgarbossa ST discordante ≥ 5 mm por este de
Smith, com manutenção dos outros dois (critérios 1 e 2) resultou em
significativa melhora na acurácia (melhora da sensibilidade e manutenção da
alta especificidade) para o diagnóstico de IAM associado a BRE.
Estes
são os critérios de Sgarbossa modificados (Sgarbossa-Smith) que devem ser
usados na suspeita de IAM associado a BRE:
- Supra do ST concordante ≥ 1 mm;
- Depressão de ST ≥ 1 mm e V1-V3;
- Supra de ST em qualquer derivação, ≥ 1 mm e ≥ 25% da amplitude da onda S precedente (critério de Smith) (razão ST/onda S ≥ 25%).
Basta
qualquer um destes três critérios estar presente em uma derivação pelo menos.
O
critério de Smith inclusive já foi incorporado em um algoritmo proposto em
artigo de revisão que tem Sgarbossa como co-autora.
Outros
aspectos como níveis seriados de troponina, considerando o quadro clínico
apresentado pelo paciente são importantes para o diagnóstico neste cenário. A
ecocardiografia à beira do leito, se disponível, ajuda a esclarecer, ao mostrar
alteração da motilidade segmentar no caso de IAM.
Referências:
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- Al Rajoub B, Noureddine S, El Chami S, Haidar MH, Itani B, Zaiter A, Akl EA. The prognostic value of a new left bundle branch block in patients with acute myocardial infarction: A systematic review and meta-analysis. Heart Lung. 2017 ;46(2):85-91.
- Sgarbossa EB, Pinski SL, Barbagelata A, Underwood DA, Gates KB, Topol EJ et al. Electrocardiographic diagnosis of evolving acute myocardial infarction in the presence of left bundle-branch block. N Engl J Med 1996;334:481-7.
- Madias JE, Sinha A, Ashtiani R, et al. A critique of the new ST-segment criteria for the diagnosis of acute myocardial infarction in patients with left bundle-branch block. Clin Cardiol. 2001;24(10):652-5.
- Smith SW, Dodd KW, Henry TD, Dvorak DM, Pearce LA. Diagnosis of ST Elevation Myocardial Infarction in the Presence of Left Bundle Branch Block using the ST Elevation to S-Wave Ratio in a Modified Sgarbossa Rule. Annals of Emergency Medicine 2012;60:766-76.
- Cai Q, Mehta N, Sgarbossa EB, Pinski SL, Wagner GS, Kaliff RM, et al. The left bundle-branch block puzzle in the 2013 ST-elevation myocardial infarction guideline: From falsely declaring emergency to denying reperfusion in a high-risk population. Are the Sgarbossa Criteria ready for prime time? Am Heart J 2013;166:409-13.
Esse post contribui muito para tomada de decisões sobretudo em pronto-socorro, reduz a quantidade de avaliação invasiva desnecessária e, por outro lado, traz o valor prognóstico do BRE no IAM.
ResponderExcluirPARABÉNS ao autor!