sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

DISCUSSÃO DE ARTIGO: APLICAÇÃO DO ESCORE DE ECG (SELVESTER) NA DOENÇA DE CHAGAS (CARDIOMIOPATIA CHAGÁSICA)

O artigo que discuteremos aqui foi publicado na última edição do Heart, importante revista britânica. Trata-se de um estudo realizado por David Strauss em parceria com pesquisadores do INCOR-SP, intitulado:
ECG scar quantification correlates with cardiac magnetic resonance scar size and prognostic factors in Chagas’ disease. David G Strauss, Savio Cardoso, João A C Lima,Carlos E Rochitte, Katherine C Wu. (Heart 2011;97:357e361).

O objetivo foi testar a hipótese de que o escore de Selvester modificado é capaz de quantificar a cicatriz miocárdica e se correlaciona com a gravidade da cardiopatia em pacientes com doença de Chagas.
Foram estudados 41 pacientes, os quais realizaram ressonância magnética cardíaca com realce tardio com gadolínio (RMC) e o cálculo do escore de ECG.
Como resultados os autores observaram que o escore de ECG se correlacionou, de forma significativa, diretamente com a área de cicatriz medida na RMC (R=0,69) e inversamente com a fração de ejeção (isto é, quanto maior o escore menor a fração de ejeção). Pacientes com insuficiência cardíaca classe funcional II ou III têm significantemente maior escore de ECG do que aqueles com classe funcional I (5.2 vs 2.2 pontos) e os pacientes com história de taquicardia ventricular (TV) tem significativamente maior escore do que os pacientes sem história de TV (5,4 vs 2,7). Um escore ≥ 2 apresentou boa acurácia para predizer a presença de cicatriz (fibrose) e fração de ejeção <=50%. Um escore ≥ 7 foi um forte preditor para disfunção sistólica importante (FE ≤ 35%) e uma história de TV. Cada ponto neste escore representa 3% de cicatriz (fibrose miocárdica). Assim, um escore de 7 corresponde a uma área de fibrose de 21%.
As limitações principais deste estudo são: o tamanho da amostra que foi pequeno e os ECG e as ressonâncias não foram realizados ao mesmo tempo, havendo um intervalo de tempo entre os exames.

Este é mais um estudo que mostra que o escore de ECG quantifica bem a área de fibrose e tem relação com a gravidade da cardiopatia. Em pacientes com cardiomiopatia chagásica este é o primeiro estudo empregando o escore de Selvester. Este estudo abre a possibilidade da aplicação do escore de Selvester como ferramenta na seleção destes pacientes para implante de cardiodesfibrilador, já que um escore alto (≥ 7) foi capaz de predizer TV. Novos estudos são necessários para avaliar a relação do escore de QRS com o prognóstico e a morte súbita nos pacientes com doença de Chagas.
A insuficiência cardíaca por doença de Chagas é conhecida por apresentar um prognóstico pior do que as outras etiologias. O ECG geralmente mostra distúrbios de condução intraventricular e transtornos do ritmo (bloqueios AV, bradicardia sinusal, arritmia ventricular). O bloqueio de ramo direito é comum,seja isolado ou associado a bloqueio fascicular anterior esquerdo, mesmo nos pacientes assintomáticos. Veja traçados já publicados neste blog de pacientes com cardiomiopatia chagásica:
1.DISTÚRBIO DE CONDUÇÃO INTRAVENTRICULAR
2.QUAL O DIAGNÓSTICO 6?

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